Texto de Maurizio Pallante, cit. por Joana Rigato na XXVI Semana Nacional de Pastoral Social:
Uma economia que não cresce é considerada como um peixe que não nada. Uma contradição nos termos. (...) Mas em que é que consiste este crescimento? (...)
Se vais daqui até ali de automóvel e não encontras trânsito na estrada consomes uma certa quantidade de combustível. Mas se ficares preso numa fila quilométrica, consomes muito mais. Portanto, fazes crescer muito mais o produto interno bruto. Portanto, estás melhor. E então porque é que te zangas? Pensa antes que me farás estar melhor também a mim, que nem conheces, tal como a 57 milhões e tal de italianos (10 milhões de portugueses). Ao pensar na tua generosidade até me comovo (...) ao longo desde caminho de terra na montanha onde não faço crescer o pro¬duto interno bruto porque não consumo nada - a não ser um bocado da sola das minhas botas. Mas comprei-as há 10 anos e ainda estão boas. Claro que ao longo destes 10 anos fizeram-se novos modelos de botas, mudaram-lhes as cores, passaram as tiras de velcro um bocadinho mais para cima, depois um bocadinho mais para baixo, depois um bocadinho mais para o lado, depois fizeram-nas mais apertadas, depois mais largas, mas este ano, vi-as ontem na montra, estão novamente iguais às tiras das minhas botas. E meteram-nas no mesmo sítio. Até a cor é igual. Parece que acabei de as comprar.
Estou quase a chegar ao cimo da serra. Vou andando devagar, com passadas regulares. Para não me lamentar da minha desgraça e não me sentir demasiado em culpa para contigo, não te vou dizer nada acerca da paisagem e do ar que respiro. Tanto a paisagem como o ar são de graça, e nem ao olhar nem ao cheirar eu consumo alguma coisa. Nem posso imaginar o quanto tu estarás contente ao consumir gasolina, travões, embraiagem e pneus, metido no meio das chapas de aço e do escape dos carros! E como me estás a fazer feliz a mim! Só te falta acender um cigarro e beber um golo de Coca-cola para atingir - e me fazeres atingir - um nível de felicidade ainda maior. Eu, pelo contrário, estou só a encher o meu cantil com a água de uma fonte. Não custa dinheiro. Depois vou comer alguns tomates que cultivei na horta, que também não custaram dinheiro algum, e umas fatias de pão que fiz em casa com farinha de trigo cultivado de forma biológica. Farinha de trigo que eu compro directamente do produtor, saltando os intermediários. Comprando a farinha também eu faço crescer o produto interno bruto, mas menos do que se a comprasse no supermercado, com um belo de um certificado que serviria só para a encarecer. E menos ainda do que se comprasse o pão já feito. Não consigo libertar-me deste egoísmo, deste desejo de infelicidade que parece que se cola à minha pele como o asfalto a escaldar à sola dos teus sapatos. Acabaste de os comprar e já vais ter de comprar outros. Vê só a tua sorte! As oportunidades para fazer o bem caem-te do céu!...
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
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