sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Olhar os pobres

Se não me amas não me olhes.

Se queres ajudar-me, aprende a olhar-me...
Quando me olhares com os teus olhos, não fiques nas minhas aparências: roupas coçadas, cabelos desalinhados, calçado roto, corpo magro, olhar distante...

Se queres ajudar-me põe-te no lugar de Jesus e olha-me como Ele me olha desde o céu. Aproxima-te com respeito da minha pessoa... Ajuda-me, não me condenes. Ao tocares em mim estás a tocar num mistério. Olha para este mistério que eu sou e faz perguntas a ti próprio: Porque estou assim? Porque sou um ser humano de fracos recursos económicos? O que é que está a falhar em mim, em ti e na sociedade em geral? Porque é que tantos têm tantas oportunidades e eu tão poucas? Ou, porque será que eu não soube ou não pude agarrar as minhas? Será que a culpa está só do meu lado? Do mau uso da minha liberdade? Ou todos falharam um pouco
porque não fizeram a sua parte em relação ao meu problema?

Para que eu me possa encontrar acredita em mim,
ajuda-me a descobrir que eu sou mais que o que vejo em mim e à minha volta. Quando me ouvires com os teus ouvidos, não fiques só com o som das minhas as palavras, escuta-me com o teu coração como escutas Jesus. Descobre as minhas necessidades, para que eu procure o que necessito e viva como pessoa.

Se a vida me foi negada não foi porque eu quis.
Simplesmente enganei-me ou enganaram-me
ao procurar a felicidade a que fui chamado...
Quem tens na lista dos teus amigos?
Já visitaste na cadeia um teu amigo?
Chamas-lhe "meu amigo" ou simplesmente "um recluso"?
Já telefonaste ou, mais, visitaste um carenciado em sua casa, na rua ou "nos sem abrigo" no dia do seu aniversário?

Se não é por Amor e porque me amas não me olhes
não me toques, não me ajudes, não me procures.
Não sou "um coitadinho", sou teu irmão...
Se não me amas, não venhas. Prefiro a minha solidão...

(Maria de Fátima Magalhães, STJ)

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