domingo, 28 de novembro de 2010
O workshop do Seixo da Beira
O workshop de ontem, no Seixo da Beira, teve a presença de mais de trinta e cinco jovens, que trabalharam em grupos a problemática da pobreza. Foi um bom momento do Projecto Verde Pino, pelo número de jovens envolvidos, pela participação dos parceiros locais que os mobilizaram e pelo trabalho desenvolvido. Enquanto os mais novos trabalharam dois pequenos vídeos, um testemunho e uma história para apresentação em plenário, os mais velhos trabalharam um "MANIFESTO" sobre a pobreza, aprovado em plenário por aclamação, tendo ficado alguns dos jovens de estudar agora a melhor publicitação.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
O anticiganismo promotor de exclusão social...
37º ENCONTRO NACIONAL DA PASTORAL DOS CIGANOS
CONCLUSÕES
O anticiganismo promotor de exclusão social da qual são exemplos o Bairro das Pedreiras e outros semelhantes no país, deve ser substituído pela escuta dos anseios do povo cigano para a sua inclusão social e eclesial. Neste sentido, o empenho de todos, a trabalhar em rede, é decisivo na luta contra a discriminação, designadamente na habitação e no emprego e na promoção da escolarização. O cuidado espiritual e o apoio social que a Igreja e a sociedade prestam aos ciganos devem influir na opinião pública através da comunicação social. Os verdadeiros protagonistas da integração social e cultural dos ciganos são eles próprios. Os valores culturais dos ciganos devem ter expressão na presença evangelizadora da Igreja entre eles. O trabalho dos mediadores ciganos deve ser ampliado a todos os campos da sociedade e aos serviços prestados pela Igreja.
Promovido pela Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos (ONPC) em parceria com o Secretariado Diocesano da Mobilidade Humana e Caritas de Beja, presidido por D. António Vitalino Fernandes Dantas, Bispo de Beja e Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Beja, Dr. Jorge Pulido Valente, na Sessão de Abertura, realizou-se, de 19 a 21 de Novembro de 2010, o 37º Encontro Nacional da Pastoral dos Ciganos, no Centro Pastoral do Seminário Diocesano de Beja. O Encontro contou com a presença de cerca de 50 participantes das Dioceses de Aveiro, Viana do Castelo, Porto, Portalegre-Castelo Branco, Lisboa, Setúbal e Beja, assim como dos membros da direcção nacional da ONPC, técnicos da Caritas de Beja, alguns ciganos e esteve aberto à participação da comunidade e de outras pessoas interessadas.
Da temática tratada, da riqueza de partilha entre os participantes e do contacto com a realidade cigana do Bairro das Pedreiras de Beja, os participantes chegaram às seguintes conclusões:
1 – Apesar das resoluções e recomendações existentes no país, com vista a proteger os direitos fundamentais dos ciganos, e das diversas iniciativas com vista à sua inclusão social, assim como das orientações da doutrina da Igreja nesse sentido, muitos são ainda objecto de actos de anticiganismo, discriminação racial e xenofobia, que criam obstáculos a uma integração e aceitação na sociedade e na Igreja.
2 – É necessário promover uma abertura à escuta dos anseios e desejos do povo cigano, a fim de que as soluções para a sua inclusão social e eclesial sejam soluções integradoras, que não piorem a situação de exclusão e marginalização em que se encontram, de que é exemplo o realojamento do Bairro das Pedreiras em Beja e outras situações semelhantes no país.
3 – No contexto do “Ano Europeu de luta contra a pobreza e a exclusão social”, constata-se que uma mudança é possível. A pobreza e a exclusão social não são inevitáveis, se forem enfrentadas com o empenho de todos, e se forem criadas condições capazes de oferecer soluções para erradicar a desfavorável situação social e económica dos ciganos. Um passo importante é a luta contra a discriminação no acesso ao emprego e à habitação.
4 – Os verdadeiros protagonistas da integração social e cultural dos ciganos são eles próprios. A escolarização dos jovens é o primeiro meio de promoção e integração. É indispensável favorecer uma escolarização de qualidade dos ciganos menores, pelo menos até completarem a escolaridade obrigatória, assim como apoiar a formação profissional e os estudos superiores e universitários dos jovens.
5 – A missão dos operadores pastorais entre os ciganos não se limita somente ao seu cuidado espiritual e ao apoio social, exige, também, um esforço de formação e sensibilização, dos membros da Igreja e da sociedade naquilo que se refere a opiniões e preconceitos sobre esta população. Tal esforço deve ser orientado, sobretudo, para aqueles que exercem influência sobre outros, em particular os meios de comunicação social.
6 – A Igreja tem um papel importante na promoção, apoio e defesa dos direitos dos indivíduos e dos grupos ciganos perante as diversas instituições locais, nacionais e internacionais. Do mesmo modo, a Igreja é chamada a empenhar-se em sanar a chaga do anticiganismo amplamente difundido na sociedade, com manifestações muitas vezes violentas e dramáticas.
7 – A presença evangelizadora da Igreja entre os Ciganos leva a constatar que estes, em geral, são muito religiosos e que a fé faz parte da sua vida e da sua cultura. Muitas vezes esses expressam as suas crenças e percursos religiosos com os valores que lhes são próprios, como por exemplo, no campo familiar e na relação com os idosos. A importância e o valor da família torna-se, particularmente evidente, no forte apoio recíproco e na solidariedade dos seus membros em casos de doença, preocupações ou luto.
8 – A celebração da fé, no seio da comunidade cigana, deve ser promovida segundo a sua sensibilidade e cultura, daí a importância de promover um conhecimento dos seus ritos, tradições e cultura, assim como, procurar na nossa fé o que pode ir ao encontro da sua sensibilidade religiosa. A valorização da cultura cigana, como por exemplo, a música, ajudará a promover o sentido de pertença. Também é importante promover o encontro ecuménico com as Igrejas que trabalham no seio da comunidade cigana.
9 – O testemunho, vivido como presença, participação e solidariedade, é um factor importante de pastoral, assim como é o ir ao encontro dos ciganos à luz do Evangelho, superando preconceitos, medos e percepções estereotipadas, mitos e justificações: a pessoa não é boa por natureza ou estatuto, da mesma forma que não é má por nascimento ou por pertencer a determinada etnia.
10 - O acolhimento nas comunidades paroquiais deve ser feito por pessoas devidamente preparadas. A Igreja tem o dever de investir nos ministérios de hospitalidade, nomeadamente a favor dos Ciganos. Um caminho sugerido é a realização, nas paróquias, de um ministério, não ordenado, de hospitalidade e acolhimento. O acolhimento oferecido pela Igreja deve estar integrado na acção pastoral, bem ponderada e autêntica, comunicada com calor e afecto. A pessoa ou a família cigana deve perceber a atitude de acolhimento, de respeito e amizade, que lhe é oferecida.
11 - As relações de amizade interpessoais promovem a confiança mútua. Trata-se de relações baseadas no respeito recíproco, no conhecimento pessoal, no acolhimento e no reconhecimento das diferenças de identidade. Neste âmbito, é oportuno difundir e promover o conhecimento da figura e das virtudes do beato cigano Zeferino Giménez Malla, apresentando-o como modelo de santidade, conquistada através da doação da própria vida para defender o seu amigo e a sua devoção ao rosário.
12 – Torna-se um imperativo para os cristãos começar a olhar o mundo dos ciganos com amor, conscientes de que até agora não se tem sido suficientemente capazes de fazê-lo, do mesmo modo que, à luz do Evangelho, são chamados a interiorizar e a recordar que os Ciganos são irmãos e irmãs em Cristo e que a persistente segregação que estes sofrem, é sofrida pelo próprio Cristo.
13 – O trabalho dos “Mediadores Ciganos”, nas escolas, autarquias, hospitais…, é indispensável para a inclusão dos ciganos, para que possam aceder aos direitos que a sociedade lhes oferece e para os ajudar a cumprir os deveres que têm para com a sociedade. É importante que se promova a presença dos mediadores em todos os campos da sociedade como também nos serviços prestados pela Igreja.
14 - Encorajamos os esforços para alargar, o mais possível, o trabalho de rede sobre o território a favor dos ciganos, envolvendo as autarquias e entidades locais, as instituições, as escolas, as comunidades cristãs, as associações, o voluntariado... Todos são chamados a desenvolver as suas competências e responsabilidades, não de modo isolado, mas valorizando, o mais possível, as sinergias que nascem da colaboração, das ideias, da criatividade e, sobretudo, da boa vontade.
15 – O Encontro de 2011 será acolhido pelo Secretariado da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, e realizar-se-á de 18 a 20 de Novembro.
Beja, 21 de Novembro de 2010
CONCLUSÕES
O anticiganismo promotor de exclusão social da qual são exemplos o Bairro das Pedreiras e outros semelhantes no país, deve ser substituído pela escuta dos anseios do povo cigano para a sua inclusão social e eclesial. Neste sentido, o empenho de todos, a trabalhar em rede, é decisivo na luta contra a discriminação, designadamente na habitação e no emprego e na promoção da escolarização. O cuidado espiritual e o apoio social que a Igreja e a sociedade prestam aos ciganos devem influir na opinião pública através da comunicação social. Os verdadeiros protagonistas da integração social e cultural dos ciganos são eles próprios. Os valores culturais dos ciganos devem ter expressão na presença evangelizadora da Igreja entre eles. O trabalho dos mediadores ciganos deve ser ampliado a todos os campos da sociedade e aos serviços prestados pela Igreja.
Promovido pela Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos (ONPC) em parceria com o Secretariado Diocesano da Mobilidade Humana e Caritas de Beja, presidido por D. António Vitalino Fernandes Dantas, Bispo de Beja e Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Beja, Dr. Jorge Pulido Valente, na Sessão de Abertura, realizou-se, de 19 a 21 de Novembro de 2010, o 37º Encontro Nacional da Pastoral dos Ciganos, no Centro Pastoral do Seminário Diocesano de Beja. O Encontro contou com a presença de cerca de 50 participantes das Dioceses de Aveiro, Viana do Castelo, Porto, Portalegre-Castelo Branco, Lisboa, Setúbal e Beja, assim como dos membros da direcção nacional da ONPC, técnicos da Caritas de Beja, alguns ciganos e esteve aberto à participação da comunidade e de outras pessoas interessadas.
Da temática tratada, da riqueza de partilha entre os participantes e do contacto com a realidade cigana do Bairro das Pedreiras de Beja, os participantes chegaram às seguintes conclusões:
1 – Apesar das resoluções e recomendações existentes no país, com vista a proteger os direitos fundamentais dos ciganos, e das diversas iniciativas com vista à sua inclusão social, assim como das orientações da doutrina da Igreja nesse sentido, muitos são ainda objecto de actos de anticiganismo, discriminação racial e xenofobia, que criam obstáculos a uma integração e aceitação na sociedade e na Igreja.
2 – É necessário promover uma abertura à escuta dos anseios e desejos do povo cigano, a fim de que as soluções para a sua inclusão social e eclesial sejam soluções integradoras, que não piorem a situação de exclusão e marginalização em que se encontram, de que é exemplo o realojamento do Bairro das Pedreiras em Beja e outras situações semelhantes no país.
3 – No contexto do “Ano Europeu de luta contra a pobreza e a exclusão social”, constata-se que uma mudança é possível. A pobreza e a exclusão social não são inevitáveis, se forem enfrentadas com o empenho de todos, e se forem criadas condições capazes de oferecer soluções para erradicar a desfavorável situação social e económica dos ciganos. Um passo importante é a luta contra a discriminação no acesso ao emprego e à habitação.
4 – Os verdadeiros protagonistas da integração social e cultural dos ciganos são eles próprios. A escolarização dos jovens é o primeiro meio de promoção e integração. É indispensável favorecer uma escolarização de qualidade dos ciganos menores, pelo menos até completarem a escolaridade obrigatória, assim como apoiar a formação profissional e os estudos superiores e universitários dos jovens.
5 – A missão dos operadores pastorais entre os ciganos não se limita somente ao seu cuidado espiritual e ao apoio social, exige, também, um esforço de formação e sensibilização, dos membros da Igreja e da sociedade naquilo que se refere a opiniões e preconceitos sobre esta população. Tal esforço deve ser orientado, sobretudo, para aqueles que exercem influência sobre outros, em particular os meios de comunicação social.
6 – A Igreja tem um papel importante na promoção, apoio e defesa dos direitos dos indivíduos e dos grupos ciganos perante as diversas instituições locais, nacionais e internacionais. Do mesmo modo, a Igreja é chamada a empenhar-se em sanar a chaga do anticiganismo amplamente difundido na sociedade, com manifestações muitas vezes violentas e dramáticas.
7 – A presença evangelizadora da Igreja entre os Ciganos leva a constatar que estes, em geral, são muito religiosos e que a fé faz parte da sua vida e da sua cultura. Muitas vezes esses expressam as suas crenças e percursos religiosos com os valores que lhes são próprios, como por exemplo, no campo familiar e na relação com os idosos. A importância e o valor da família torna-se, particularmente evidente, no forte apoio recíproco e na solidariedade dos seus membros em casos de doença, preocupações ou luto.
8 – A celebração da fé, no seio da comunidade cigana, deve ser promovida segundo a sua sensibilidade e cultura, daí a importância de promover um conhecimento dos seus ritos, tradições e cultura, assim como, procurar na nossa fé o que pode ir ao encontro da sua sensibilidade religiosa. A valorização da cultura cigana, como por exemplo, a música, ajudará a promover o sentido de pertença. Também é importante promover o encontro ecuménico com as Igrejas que trabalham no seio da comunidade cigana.
9 – O testemunho, vivido como presença, participação e solidariedade, é um factor importante de pastoral, assim como é o ir ao encontro dos ciganos à luz do Evangelho, superando preconceitos, medos e percepções estereotipadas, mitos e justificações: a pessoa não é boa por natureza ou estatuto, da mesma forma que não é má por nascimento ou por pertencer a determinada etnia.
10 - O acolhimento nas comunidades paroquiais deve ser feito por pessoas devidamente preparadas. A Igreja tem o dever de investir nos ministérios de hospitalidade, nomeadamente a favor dos Ciganos. Um caminho sugerido é a realização, nas paróquias, de um ministério, não ordenado, de hospitalidade e acolhimento. O acolhimento oferecido pela Igreja deve estar integrado na acção pastoral, bem ponderada e autêntica, comunicada com calor e afecto. A pessoa ou a família cigana deve perceber a atitude de acolhimento, de respeito e amizade, que lhe é oferecida.
11 - As relações de amizade interpessoais promovem a confiança mútua. Trata-se de relações baseadas no respeito recíproco, no conhecimento pessoal, no acolhimento e no reconhecimento das diferenças de identidade. Neste âmbito, é oportuno difundir e promover o conhecimento da figura e das virtudes do beato cigano Zeferino Giménez Malla, apresentando-o como modelo de santidade, conquistada através da doação da própria vida para defender o seu amigo e a sua devoção ao rosário.
12 – Torna-se um imperativo para os cristãos começar a olhar o mundo dos ciganos com amor, conscientes de que até agora não se tem sido suficientemente capazes de fazê-lo, do mesmo modo que, à luz do Evangelho, são chamados a interiorizar e a recordar que os Ciganos são irmãos e irmãs em Cristo e que a persistente segregação que estes sofrem, é sofrida pelo próprio Cristo.
13 – O trabalho dos “Mediadores Ciganos”, nas escolas, autarquias, hospitais…, é indispensável para a inclusão dos ciganos, para que possam aceder aos direitos que a sociedade lhes oferece e para os ajudar a cumprir os deveres que têm para com a sociedade. É importante que se promova a presença dos mediadores em todos os campos da sociedade como também nos serviços prestados pela Igreja.
14 - Encorajamos os esforços para alargar, o mais possível, o trabalho de rede sobre o território a favor dos ciganos, envolvendo as autarquias e entidades locais, as instituições, as escolas, as comunidades cristãs, as associações, o voluntariado... Todos são chamados a desenvolver as suas competências e responsabilidades, não de modo isolado, mas valorizando, o mais possível, as sinergias que nascem da colaboração, das ideias, da criatividade e, sobretudo, da boa vontade.
15 – O Encontro de 2011 será acolhido pelo Secretariado da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, e realizar-se-á de 18 a 20 de Novembro.
Beja, 21 de Novembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
Notícias do Projecto
A Exposição "Retalhos de outras vidas", com fotografias feitas por utentes dos Centros de ATL, está até ao final desta semana na Câmara Municipal de Castanheira de Pêra, no edifício dos Paços do Concelho, e na Biblioteca do Município de Tábua. A Exposição afirma-se como uma das iniciativas de grande qualidade do Projecto Verde Pino.
Na acção "Workshops", estivemos esta semana na Pampilhosa da Serra. Ressaltaram os problemas associados à pobreza da população idosa e do interior, nomeadamente, a solidão, a desertificação e as distâncias, distâncias que contam muito sobretudo na saúde.
Na acção "Workshops", estivemos esta semana na Pampilhosa da Serra. Ressaltaram os problemas associados à pobreza da população idosa e do interior, nomeadamente, a solidão, a desertificação e as distâncias, distâncias que contam muito sobretudo na saúde.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Toxicodependentes em tratamento aumentam em Portugal
Dados do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência
A canábis é a droga mais consumida em Portugal, ao passo que o consumo de heroína é o mais problemático.
Paralelamente, houve uma diminuição do consumo de substâncias ilícitas, sobretudo nos jovens, e uma diminuição do número de casos de infecção por VIH entre os toxicodependentes. O número de pessoas em tratamento aumentou. Os dados são do 15º relatório anual sobre a evolução do fenómeno da droga na Europa, da responsabilidade do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência (OEDT), apresentado hoje em Lisboa.
O mesmo documento refere que os toxicodependentes portugueses são os mais velhos da Europa. “Portugal reporta a percentagem mais elevada (28%) de consumidores de droga mais idosos em início de tratamento”. A droga deixou de ser um “fenómeno juvenil”, o que representa um novo desafio pois os serviços de tratamento estão concebidos para consumidores de droga mais jovens.
“Parte-se geralmente do princípio de que as pessoas deixam de consumir droga depois dos trinta anos mas os dados dos centros de tratamento da toxicodependência europeus mostram que nem sempre é assim. Os serviços são cada vez mais chamados a suprir as necessidades de utentes mais idosos, cuja saúde sofre os efeitos combinados do consumo prolongado de droga e do envelhecimento”, explica o director da OEDT, Wolfgang Götz.
João Goulão, presidente do Conselho de Administração do OEDT e responsável pelo Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), admitiu a existência de um corte de 4% no orçamento para 2011 deste organismo, que combate o flagelo da droga em Portugal. Para o responsável, estes corte não é “dramático” mas, admite, exige uma adaptação da rede para dar uma resposta mais atempada e adaptada às necessidades das populações. Essa redução vai-se reflectir, para já, no despedimento de cerca de 200 trabalhadores precários do IDT. Por fim, acrescentou que “cortes cegos” podem comprometer o trabalho desenvolvido e os progressos alcançados.
A nível europeu os dados são mais preocupantes. O director da OEDT, Wolfgang Götz, salienta, com preocupação, que o número de mortes associadas ao consumo de cocaína na Europa aumentou. As estimativas apontam para a ocorrência de cerca 1000 óbitos, por ano. A cocaína é a segunda substância mais consumida, com cerca de 4 milhões de consumidores espalhados por toda a Europa. A primeira é a canábis, cujo número de consumidores ascende aos 23 milhões. O consumo de cocaína deixou de ser um exclusivo de celebridades ou pessoas de sucesso, espalhando-se até às classes mais marginalizadas.
A qualidade do tratamento melhorou bastante desde a década de 1990. O OEDT estima que, em cada ano, haja na União Europeia pelo menos um milhão de consumidores de droga a receber alguma forma de tratamento.
“Num momento em que a Europa está a entrar num período de austeridade económica, com níveis crescentes de desemprego entre os jovens, receia-se que esta situação se possa fazer acompanhar de um aumento das formas problemáticas de consumo de droga”, alerta o estudo.
Ana Carvalho Vacas/Correio da Manhã – 11.11.2010
A canábis é a droga mais consumida em Portugal, ao passo que o consumo de heroína é o mais problemático.
Paralelamente, houve uma diminuição do consumo de substâncias ilícitas, sobretudo nos jovens, e uma diminuição do número de casos de infecção por VIH entre os toxicodependentes. O número de pessoas em tratamento aumentou. Os dados são do 15º relatório anual sobre a evolução do fenómeno da droga na Europa, da responsabilidade do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência (OEDT), apresentado hoje em Lisboa.
O mesmo documento refere que os toxicodependentes portugueses são os mais velhos da Europa. “Portugal reporta a percentagem mais elevada (28%) de consumidores de droga mais idosos em início de tratamento”. A droga deixou de ser um “fenómeno juvenil”, o que representa um novo desafio pois os serviços de tratamento estão concebidos para consumidores de droga mais jovens.
“Parte-se geralmente do princípio de que as pessoas deixam de consumir droga depois dos trinta anos mas os dados dos centros de tratamento da toxicodependência europeus mostram que nem sempre é assim. Os serviços são cada vez mais chamados a suprir as necessidades de utentes mais idosos, cuja saúde sofre os efeitos combinados do consumo prolongado de droga e do envelhecimento”, explica o director da OEDT, Wolfgang Götz.
João Goulão, presidente do Conselho de Administração do OEDT e responsável pelo Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), admitiu a existência de um corte de 4% no orçamento para 2011 deste organismo, que combate o flagelo da droga em Portugal. Para o responsável, estes corte não é “dramático” mas, admite, exige uma adaptação da rede para dar uma resposta mais atempada e adaptada às necessidades das populações. Essa redução vai-se reflectir, para já, no despedimento de cerca de 200 trabalhadores precários do IDT. Por fim, acrescentou que “cortes cegos” podem comprometer o trabalho desenvolvido e os progressos alcançados.
A nível europeu os dados são mais preocupantes. O director da OEDT, Wolfgang Götz, salienta, com preocupação, que o número de mortes associadas ao consumo de cocaína na Europa aumentou. As estimativas apontam para a ocorrência de cerca 1000 óbitos, por ano. A cocaína é a segunda substância mais consumida, com cerca de 4 milhões de consumidores espalhados por toda a Europa. A primeira é a canábis, cujo número de consumidores ascende aos 23 milhões. O consumo de cocaína deixou de ser um exclusivo de celebridades ou pessoas de sucesso, espalhando-se até às classes mais marginalizadas.
A qualidade do tratamento melhorou bastante desde a década de 1990. O OEDT estima que, em cada ano, haja na União Europeia pelo menos um milhão de consumidores de droga a receber alguma forma de tratamento.
“Num momento em que a Europa está a entrar num período de austeridade económica, com níveis crescentes de desemprego entre os jovens, receia-se que esta situação se possa fazer acompanhar de um aumento das formas problemáticas de consumo de droga”, alerta o estudo.
Ana Carvalho Vacas/Correio da Manhã – 11.11.2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
"O maior perigo do terceiro milénio"
Em Junho de 1836, Nathan Rothschild viajou de Londres a Frankfurt a fim de assistir ao casamento do filho Lionel com a sua sobrinha (Charlotte, prima de Lionel) e discutir com os irmãos a entrada dos próprios filhos no negócio da família. Nathan devia ser o homem mais rico do mundo, pelo menos em activos de curtíssimo prazo. Naturalmente, podia permitir-se tudo o que desejasse.
Então com 59 anos, Nathan gozava de boa saúde, embora fosse um tanto corpulento. Era uma fonte de energia, incansável na sua devoção ao trabalho e de temperamento inflexível. Quando saiu de Londres, porém, estava com uma inflamação na região lombar. (Um médico alemão diagnosticou-lhe um furúnculo, mas pode ter sido um abcesso.) Apesar do tratamento, a pústula infectou e tornou-se bastante dolorosa. Não fez diferença alguma: Nathan levantou-se do leito de enfermo e compareceu ao casamento. Tivesse ele ficado na cama, e os esponsais ter-se-iam celebrado no hotel. Apesar de todo o sofrimento, Nathan continuou a tratar dos negócios, ditando instruções à mulher. Nesse espaço de tempo, o grande Dr. Travers foi chamado de Londres e, quando concluiu que não podia solucionar o problema, convocou-se um eminente cirurgião alemão, presumivelmente para abrir e limpar a ferida. De nada adiantou: o veneno espalhou-se e Nathan faleceu a 28 de Julho de 1836. Dizem que um pombo-correio de Rothschild levou a mensagem de volta a Londres: II est mort.
Nathan Rothschild morreu provavelmente de uma septicemia causada por estafilococo ou estreptococo — a que se costumava dar o nome de envenenamento do sangue. Na ausência de informação mais detalhada, é difícil dizer se a causa da morte teria sido o furúnculo (abcesso) ou uma contaminação secundária proveniente dos instrumentos cirúrgicos. Isto aconteceu antes de aparecer a teoria microbiana e, por conseguinte, antes de qualquer noção da importância da higiene e da limpeza. Não havia então qualquer bactericida, muito menos antibióticos. E assim morreu o homem que podia comprar fosse o que fosse, vítima de uma infecção banal, facilmente curável hoje em dia para quem tiver condições de procurar um médico, um hospital ou até mesmo um farmacêutico.
A medicina registou enormes avanços desde o tempo de Nathan Rothschild. Mas medicamentos melhores e mais eficazes — o tratamento de doenças e a recuperação de ferimentos — são apenas parte da história. O aumento considerável da expectativa de vida nos dias de hoje deve-se mais às conquistas na área preventiva e à disseminação dos hábitos de higiene do que a melhores remédios. Água limpa e rápida remoção de lixo, aliadas a mais asseio pessoal, marcaram a diferença. Durante muito tempo, o grande assassino foi a infecção gastrointestinal, transmitida dos dejectos às mãos, destas aos alimentos e ao aparelho digestivo; e esse inimigo invisível, mas letal, omnipresente, era reforçado de tempos a tempos por micróbios epidêmicos, como o vibrião da cólera. O melhor meio de transmissão era a latrina comum, onde o contacto com dejectos era favorecido pela inexistência de papel higiénico e a falta de roupas interiores laváveis. Quem vive com roupas de lã sem serem lavadas — e as lãs não são boas de lavar — sentirá uma vontade natural de se coçar. Por isso, as mãos estavam sempre sujas e o maior erro era não as lavar antes de comer. Esse era o motivo por que os grupos religiosos que aconselhavam tal hábito — judeus, muçulmanos — tinham uma taxa reduzida de doenças e de mortalidade, o que nem sempre lhes era vantajoso. As pessoas eram facilmente persuadidas de que, se morriam menos judeus, era por terem envenenado os poços dos cristãos.
A resposta a esta questão foi encontrada, não na mudança da crença ou doutrina religiosa, mas na inovação industrial. O principal produto da nova tecnologia que conhecemos como a revolução industrial foi o algodão barato e lavável; e, paralelamente, a produção em massa de sabão feito de óleos vegetais. Pela primeira vez, o homem comum podia dar-se ao luxo de adquirir roupa interior, outrora conhecida como «roupa branca», porque era feita de linho, o tecido lavável que as pessoas abastadas usavam junto à pele. O indivíduo podia lavar-se com sabão, embora o hábito de tomar banho em excesso fosse visto como um sinal de menos asseio. Por que razão as pessoas limpas haviam de se lavar com tanta frequência? Não interessa. A higiene pessoal mudou tão drasticamente que as pessoas comuns, dos finais do século XIX e início do século XX, viviam em geral com maior asseio do que os reis e rainhas de há um século.
A terceira razão para o declínio da doença e da morte foi a melhor nutrição. Isso ficou a dever-se muito ao crescimento da oferta de alimentos e mais ainda à maior rapidez e eficiência nos transportes. As grandes fomes colectivas, que em geral resultavam de uma escassez local, tornaram-se mais raras; a dieta ficou mais variada e mais rica em proteína animal. Essas mudanças traduziram-se, entre outras coisas, em estaturas humanas mais altas e robustas. Este processo foi muito mais lento do que o desenvolvimento das condições médicas e higiénicas que foram instituídas de cima para baixo, principalmente porque dependeu de hábitos e gostos, tal como dos rendimentos. Numa época relativamente próxima, como a da primeira guerra mundial, os turcos que lutavam contra a força expedicionária britânica em Galipoli ficaram impressionados com a diferença de estatura entre os soldados da Austrália e da Nova Zelândia, alimentados com bifes e lombo de carneiro, e os jovens franzinos das cidades industriais britânicas. E quem acompanhar as populações imigrantes de países pobres para países ricos observará que os filhos são mais altos e mais bem estruturados que os seus pais.
A partir desses benefícios, a expectativa de vida disparou, ao mesmo tempo que se estreitaram as diferenças entre ricos e pobres. As principais causas de morte adulta já não eram mais as infecções, especialmente a infecção gastrointestinal. Mas sim as debilitantes enfermidades da velhice. Essas conquistas foram maiores nas nações industriais ricas, com assistência médica para todos, mas até mesmo alguns países mais pobres beneficiaram de resultados impressionantes.
Os progressos na medicina e na higiene exemplificam um fenómeno muito mais vasto: as vantagens decorrentes da aplicação do conhecimento e da ciência à tecnologia. O que nos ajuda a ter esperança quanto aos problemas que ensombram o presente e o futuro. Encorajam-nos até a alimentar fantasias de vida eterna ou, melhor ainda, de juventude eterna.
Essas fantasias, portanto, quando baseadas na ciência, ou seja, na realidade, constituem o sonho dos ricos e afortunados. Os benefícios do saber e do conhecimento não foram equitativamente distribuídos, nem mesmo nas nações ricas. Vivemos num mundo de desigualdade e diversidade. Mundo esse que está dividido, grosso modo, em três espécies de nações: aquelas em que as pessoas gastam rios de dinheiro para não aumentar de peso, aquelas em que as pessoas comem para viver e aquelas cuja população não sabe de onde virá a próxima refeição. Essas diferenças são acompanhadas de acentuados contrastes nas taxas de doença e expectativa de vida. As pessoas das nações ricas preocupam-se com a velhice, que cada vez se prolonga mais. Fazem exercícios para manter a forma, controlam o colesterol, ocupam o seu tempo com a televisão, o telefone e os jogos e consolam-se com eufemismos do género «os anos dourados» e a «terceira idade». Ser «jovem» é bom, ser «velho» é degradante e problemático. Enquanto isso, as pessoas de países pobres tentam manter-se vivas — não precisam de se preocupar com o colesterol nem com o entupimento das artérias, em parte pela dieta frugal, em parte por morrerem cedo. Procuram assegurar uma velhice tranquila, se lá chegarem, por meio de montes de filhos, que crescerão com um desejável sentimento de obrigação filial.
A antiga divisão do mundo em dois blocos de poder, Leste e Oeste, já não existe. Hoje, o grande desafio e ameaça é o abismo em matéria de riqueza e saúde que separa ricos e pobres. Esse abismo é frequentemente descrito em termos de Norte e Sul, porque a divisão é geográfica; embora uma indicação mais correcta fosse a de o Ocidente e o Resto, porque a divisão também é histórica. Esse é o maior problema e o maior perigo com que se defronta o mundo do terceiro milénio.
David Landes
Então com 59 anos, Nathan gozava de boa saúde, embora fosse um tanto corpulento. Era uma fonte de energia, incansável na sua devoção ao trabalho e de temperamento inflexível. Quando saiu de Londres, porém, estava com uma inflamação na região lombar. (Um médico alemão diagnosticou-lhe um furúnculo, mas pode ter sido um abcesso.) Apesar do tratamento, a pústula infectou e tornou-se bastante dolorosa. Não fez diferença alguma: Nathan levantou-se do leito de enfermo e compareceu ao casamento. Tivesse ele ficado na cama, e os esponsais ter-se-iam celebrado no hotel. Apesar de todo o sofrimento, Nathan continuou a tratar dos negócios, ditando instruções à mulher. Nesse espaço de tempo, o grande Dr. Travers foi chamado de Londres e, quando concluiu que não podia solucionar o problema, convocou-se um eminente cirurgião alemão, presumivelmente para abrir e limpar a ferida. De nada adiantou: o veneno espalhou-se e Nathan faleceu a 28 de Julho de 1836. Dizem que um pombo-correio de Rothschild levou a mensagem de volta a Londres: II est mort.
Nathan Rothschild morreu provavelmente de uma septicemia causada por estafilococo ou estreptococo — a que se costumava dar o nome de envenenamento do sangue. Na ausência de informação mais detalhada, é difícil dizer se a causa da morte teria sido o furúnculo (abcesso) ou uma contaminação secundária proveniente dos instrumentos cirúrgicos. Isto aconteceu antes de aparecer a teoria microbiana e, por conseguinte, antes de qualquer noção da importância da higiene e da limpeza. Não havia então qualquer bactericida, muito menos antibióticos. E assim morreu o homem que podia comprar fosse o que fosse, vítima de uma infecção banal, facilmente curável hoje em dia para quem tiver condições de procurar um médico, um hospital ou até mesmo um farmacêutico.
A medicina registou enormes avanços desde o tempo de Nathan Rothschild. Mas medicamentos melhores e mais eficazes — o tratamento de doenças e a recuperação de ferimentos — são apenas parte da história. O aumento considerável da expectativa de vida nos dias de hoje deve-se mais às conquistas na área preventiva e à disseminação dos hábitos de higiene do que a melhores remédios. Água limpa e rápida remoção de lixo, aliadas a mais asseio pessoal, marcaram a diferença. Durante muito tempo, o grande assassino foi a infecção gastrointestinal, transmitida dos dejectos às mãos, destas aos alimentos e ao aparelho digestivo; e esse inimigo invisível, mas letal, omnipresente, era reforçado de tempos a tempos por micróbios epidêmicos, como o vibrião da cólera. O melhor meio de transmissão era a latrina comum, onde o contacto com dejectos era favorecido pela inexistência de papel higiénico e a falta de roupas interiores laváveis. Quem vive com roupas de lã sem serem lavadas — e as lãs não são boas de lavar — sentirá uma vontade natural de se coçar. Por isso, as mãos estavam sempre sujas e o maior erro era não as lavar antes de comer. Esse era o motivo por que os grupos religiosos que aconselhavam tal hábito — judeus, muçulmanos — tinham uma taxa reduzida de doenças e de mortalidade, o que nem sempre lhes era vantajoso. As pessoas eram facilmente persuadidas de que, se morriam menos judeus, era por terem envenenado os poços dos cristãos.
A resposta a esta questão foi encontrada, não na mudança da crença ou doutrina religiosa, mas na inovação industrial. O principal produto da nova tecnologia que conhecemos como a revolução industrial foi o algodão barato e lavável; e, paralelamente, a produção em massa de sabão feito de óleos vegetais. Pela primeira vez, o homem comum podia dar-se ao luxo de adquirir roupa interior, outrora conhecida como «roupa branca», porque era feita de linho, o tecido lavável que as pessoas abastadas usavam junto à pele. O indivíduo podia lavar-se com sabão, embora o hábito de tomar banho em excesso fosse visto como um sinal de menos asseio. Por que razão as pessoas limpas haviam de se lavar com tanta frequência? Não interessa. A higiene pessoal mudou tão drasticamente que as pessoas comuns, dos finais do século XIX e início do século XX, viviam em geral com maior asseio do que os reis e rainhas de há um século.
A terceira razão para o declínio da doença e da morte foi a melhor nutrição. Isso ficou a dever-se muito ao crescimento da oferta de alimentos e mais ainda à maior rapidez e eficiência nos transportes. As grandes fomes colectivas, que em geral resultavam de uma escassez local, tornaram-se mais raras; a dieta ficou mais variada e mais rica em proteína animal. Essas mudanças traduziram-se, entre outras coisas, em estaturas humanas mais altas e robustas. Este processo foi muito mais lento do que o desenvolvimento das condições médicas e higiénicas que foram instituídas de cima para baixo, principalmente porque dependeu de hábitos e gostos, tal como dos rendimentos. Numa época relativamente próxima, como a da primeira guerra mundial, os turcos que lutavam contra a força expedicionária britânica em Galipoli ficaram impressionados com a diferença de estatura entre os soldados da Austrália e da Nova Zelândia, alimentados com bifes e lombo de carneiro, e os jovens franzinos das cidades industriais britânicas. E quem acompanhar as populações imigrantes de países pobres para países ricos observará que os filhos são mais altos e mais bem estruturados que os seus pais.
A partir desses benefícios, a expectativa de vida disparou, ao mesmo tempo que se estreitaram as diferenças entre ricos e pobres. As principais causas de morte adulta já não eram mais as infecções, especialmente a infecção gastrointestinal. Mas sim as debilitantes enfermidades da velhice. Essas conquistas foram maiores nas nações industriais ricas, com assistência médica para todos, mas até mesmo alguns países mais pobres beneficiaram de resultados impressionantes.
Os progressos na medicina e na higiene exemplificam um fenómeno muito mais vasto: as vantagens decorrentes da aplicação do conhecimento e da ciência à tecnologia. O que nos ajuda a ter esperança quanto aos problemas que ensombram o presente e o futuro. Encorajam-nos até a alimentar fantasias de vida eterna ou, melhor ainda, de juventude eterna.
Essas fantasias, portanto, quando baseadas na ciência, ou seja, na realidade, constituem o sonho dos ricos e afortunados. Os benefícios do saber e do conhecimento não foram equitativamente distribuídos, nem mesmo nas nações ricas. Vivemos num mundo de desigualdade e diversidade. Mundo esse que está dividido, grosso modo, em três espécies de nações: aquelas em que as pessoas gastam rios de dinheiro para não aumentar de peso, aquelas em que as pessoas comem para viver e aquelas cuja população não sabe de onde virá a próxima refeição. Essas diferenças são acompanhadas de acentuados contrastes nas taxas de doença e expectativa de vida. As pessoas das nações ricas preocupam-se com a velhice, que cada vez se prolonga mais. Fazem exercícios para manter a forma, controlam o colesterol, ocupam o seu tempo com a televisão, o telefone e os jogos e consolam-se com eufemismos do género «os anos dourados» e a «terceira idade». Ser «jovem» é bom, ser «velho» é degradante e problemático. Enquanto isso, as pessoas de países pobres tentam manter-se vivas — não precisam de se preocupar com o colesterol nem com o entupimento das artérias, em parte pela dieta frugal, em parte por morrerem cedo. Procuram assegurar uma velhice tranquila, se lá chegarem, por meio de montes de filhos, que crescerão com um desejável sentimento de obrigação filial.
A antiga divisão do mundo em dois blocos de poder, Leste e Oeste, já não existe. Hoje, o grande desafio e ameaça é o abismo em matéria de riqueza e saúde que separa ricos e pobres. Esse abismo é frequentemente descrito em termos de Norte e Sul, porque a divisão é geográfica; embora uma indicação mais correcta fosse a de o Ocidente e o Resto, porque a divisão também é histórica. Esse é o maior problema e o maior perigo com que se defronta o mundo do terceiro milénio.
David Landes
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
O Consumismo em Diferentes Culturas
Para entender o que é consumismo, é necessário primeiro entender o que é cultura.
Cultura não são simplesmente as artes, ou valores, ou sistemas de crença. Não é uma instituição distinta funcionando ao lado de sistemas económicos ou políticos. Ao contrário, são todos esses elementos – valores, crenças, costumes, tradições, símbolos, normas e instituições – combinados para criar as matrizes abrangentes que forjam o modo como os homens percebem a realidade. Em função de existirem sistemas culturais distintos, uma pessoa pode interpretar um acto como insultante e outra pode considerá-lo amável – como por exemplo, fazer um sinal com o “polegar para cima” é um gesto extremamente vulgar em certas culturas. A cultura leva algumas pessoas a crer que os papéis sociais são designados pelo nascimento, determina onde os olhos da pessoa devem focar ao conversar com outra, e até mesmo dita que formas de relacionamentos sexuais (como monogamia, poliandria, ou poligamia) são aceitáveis.
As culturas, como sistemas mais amplos, são provenientes de interacções complexas entre muitos elementos diferentes de comportamentos sociais e guiam os homens em um nível quase invisível. Elas são, nas palavras dos antropólogos Robert Welsch e Luis Vivanco, a soma de todos os “processos sociais que fazem com que aquilo que é artificial (ou construído pelos homens) pareça natural”. São esses processos sociais – a interacção directa com outras pessoas e com artefactos ou “coisas” culturais, a exposição nos mass media, leis, religiões e sistemas económicos – que constroem as realidades dos povos. A maioria daquilo que dá a impressão de ser “natural” para as pessoas é, na realidade, cultural. Considere hábitos alimentares, por exemplo. Todos os seres humanos comem, mas o que, como e mesmo quando eles comem é determinado por sistemas culturais. Poucos europeus comeriam insectos porque essas criaturas lhes são intrinsecamente repugnantes devido ao condicionamento cultural, embora muitos deles comam camarão ou caracol. E, no entanto, em outras culturas insectos são uma parte importante da culinária e, em alguns casos, como a larva de sago para o povo Korowai da Nova Guiné, são iguarias. Em última instância, embora o comportamento humano esteja enraizado na evolução e fisiologia, ele é guiado primordialmente pelos sistemas culturais em que as pessoas nascem. Tal como ocorre com todos os sistemas, há paradigmas dominantes que guiam as culturas – ideias e pressupostos em comum que, através das gerações, são construídos e reforçados pelos principais agentes e instituições culturais e pelos próprios participantes das culturas. Hoje, o paradigma cultural dominante em muitas partes do mundo e que atravessa muitas culturas é o consumismo. O economista britânico Paul Ekins descreve o consumismo como uma orientação cultural em que “a posse e uso de um número e de uma variedade crescente de bens e serviços são a principal aspiração cultural e o caminho tido como de maior certeza rumo à felicidade pessoal, status social e sucesso nacional”. Simplificando: o consumismo é um padrão cultural que faz com que as pessoas encontrem significado, satisfação e reconhecimento principalmente através do consumo de bens e serviços. Embora isso assuma formas diversas em diferentes culturas, o consumismo leva as pessoas de qualquer lugar a associar níveis elevados de consumo a bem-estar e sucesso. Ironicamente, no entanto, a pesquisa mostra que consumir mais não significa necessariamente uma melhor qualidade de vida individual. O consumismo está hoje infiltrado de modo tão absoluto nas culturas humanas que, por vezes, fica até difícil reconhecê-lo como uma construção cultural. Ele dá a impressão de ser simplesmente natural. Mas, de fato, os elementos culturais – linguagem e símbolos, normas e tradições, valores e instituições – foram profundamente transformados pelo consumismo em sociedades do mundo todo. De facto, “consumidor” hoje em dia é com frequência usado como sinónimo de pessoa nos 10 idiomas mais usados no mundo, e seria plausível pensar em um número bem maior. Considere os símbolos – aquilo que a antropóloga Leslie White descreveu como “a origem e base do comportamento humano”. Hoje, na maioria dos países, as pessoas estão expostas a centenas, talvez milhares, de símbolos todos os dias. Logótipos, jingles, slogans, porta-vozes, mascotes – todos esses símbolos de marcas diferentes bombardeiam as pessoas rotineiramente, influenciando o comportamento até em níveis inconscientes. Hoje, esses símbolos de consumo são reconhecidos com maior facilidade do que espécies de animais selvagens comuns, canto de pássaros, sons emitidos pelos animais, ou outros elementos da natureza. Um estudo de 2002 constatou que crianças britânicas conseguiam identificar mais personagens de Pokémon (uma marca de brinquedo) do que espécies de animais selvagens. E os logótipos são reconhecidos por crianças de apenas dois anos de idade. Uma pesquisa com crianças de dois anos concluiu que, embora não fossem capazes de distinguir a letra M, muitas conseguiam identificar os arcos dourados que moldam o M do McDonald’s. As normas culturais – como as pessoas usam o tempo de lazer, a frequência com que actualizam o guarda-roupa e mesmo a forma de educar os filhos – estão hoje cada vez mais voltadas à compra de bens e serviços. Uma norma de particular interesse são os hábitos alimentares. Ao que parece, agora é natural ingerir alimentos superadoçados e altamente industrializados. Desde muito cedo, as crianças são expostas a bolos, cereais açucarados e outros alimentos não saudáveis, mas altamente lucrativos e veiculados por publicidade ostensiva – uma mudança que vem tendo um impacto tremendo sobre as taxas mundiais de obesidade. Hoje, vendedores ambulantes de fast food e máquinas que vendem refrigerante podem ser encontrados em escolas, forjando as normas alimentares das crianças desde bem pequenas e, sucessivamente, reforçando e perpetuando essas normas em todas as sociedades. De acordo com um estudo feito pelos Centros para Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, perto de dois terços das áreas administrativas contendo escolas públicas nos EUA recebem uma percentagem da receita das máquinas de venda automática, e um terço recebe recompensas de empresas de refrigerantes quando uma determinada quantidade de seu produto é vendida. As tradições – o aspecto mais ritualístico e mais profundamente enraizado das culturas – são hoje também forjadas pelo consumismo. De cerimónias de casamento que custam em média US$ 22.000 nos Estados Unidos a normas para funerais que pressionam aqueles que choram os entes queridos a comprar caixões e lápides elaborados, além de outros itens simbólicos caros, o consumismo está profundamente entranhado no modo como as pessoas observam os rituais. Optar por uma celebração de ritual simples pode ser uma escolha difícil de fazer, seja por causa de regras, pressão familiar, ou por influência da publicidade. O Natal demonstra bem esse ponto. Enquanto para os cristãos esse dia marca o nascimento de Jesus, para muita gente o feriado é dedicado ao Pai Natal, a ganhar presentes e banquetes. Uma pesquisa realizada em 2008 referente a gastos no Natal em 18 países constatou que se gastaram centenas de dólares/pessoa em presentes, e outro tanto em eventos sociais e comida. Na Irlanda, no Reino Unido e nos Estados Unidos – os três com maior gasto – as pessoas despenderam em média US$ 942, US$ 721 e US$ 581 em presentes, respectivamente. Um número cada vez maior de não cristãos comemora o Natal como uma ocasião para troca de presentes. No Japão, o Natal é um feriado importante, embora apenas 2% da população seja cristã. Como observado em tom espirituoso pelo reverendo Billy, da Igreja Pare de Comprar, em um chamado para educar o consumidor: “Acreditamos ser consumidores na época do Natal. Não! Estamos sendo consumidos na época do Natal”. O consumismo também está afectando os valores das pessoas. A crença de que mais riqueza e mais posses materiais são essenciais para se chegar a uma vida boa aumentou de modo surpreendente em muitos países nas últimas décadas. Uma pesquisa anual com alunos de primeiro ano de faculdades nos Estados Unidos investigou durante mais de 35 anos as prioridades de vida dos alunos. No transcorrer desse tempo, a importância atribuída a ter boa situação financeira aumentou, enquanto a importância atribuída à construção de uma filosofia de vida plena de sentido diminuiu. E este não é um fenómeno apenas americano. Um estudo conduzido pelos psicólogos Güliz Ger e Russell Belk constatou níveis altos de materialismo em dois terços dos 12 países pesquisados, inclusive em diversas economias em transição.
Embora hoje encontremos consumismo em praticamente todas as culturas, esse fenómeno não está isento de consequências. Neste planeta finito, definir sucesso e felicidade através de quanto uma pessoa consome não é sustentável. Além disso, está mais do que claro que essa orientação cultural não apareceu simplesmente por acaso, como um subproduto do crescimento da renda; ela foi engendrada ao longo de muitos séculos. Actualmente, como o consumismo foi internalizado por muitas sociedades, ele está de alguma maneira se auto perpetuando, embora algumas instituições da sociedade – incluindo empresas, media, governos e estabelecimentos educacionais – continuem a sustentar essa orientação cultural. Essas instituições estão também a trabalhar activamente para expandir mercados mundiais para novos bens e serviços de consumo. Entender o papel desses estímulos institucionais será essencial para que se cultivem novas culturas de sustentabilidade.
Erik Assadourian, in Relatório do Estado do Mundo 2010
Cultura não são simplesmente as artes, ou valores, ou sistemas de crença. Não é uma instituição distinta funcionando ao lado de sistemas económicos ou políticos. Ao contrário, são todos esses elementos – valores, crenças, costumes, tradições, símbolos, normas e instituições – combinados para criar as matrizes abrangentes que forjam o modo como os homens percebem a realidade. Em função de existirem sistemas culturais distintos, uma pessoa pode interpretar um acto como insultante e outra pode considerá-lo amável – como por exemplo, fazer um sinal com o “polegar para cima” é um gesto extremamente vulgar em certas culturas. A cultura leva algumas pessoas a crer que os papéis sociais são designados pelo nascimento, determina onde os olhos da pessoa devem focar ao conversar com outra, e até mesmo dita que formas de relacionamentos sexuais (como monogamia, poliandria, ou poligamia) são aceitáveis.
As culturas, como sistemas mais amplos, são provenientes de interacções complexas entre muitos elementos diferentes de comportamentos sociais e guiam os homens em um nível quase invisível. Elas são, nas palavras dos antropólogos Robert Welsch e Luis Vivanco, a soma de todos os “processos sociais que fazem com que aquilo que é artificial (ou construído pelos homens) pareça natural”. São esses processos sociais – a interacção directa com outras pessoas e com artefactos ou “coisas” culturais, a exposição nos mass media, leis, religiões e sistemas económicos – que constroem as realidades dos povos. A maioria daquilo que dá a impressão de ser “natural” para as pessoas é, na realidade, cultural. Considere hábitos alimentares, por exemplo. Todos os seres humanos comem, mas o que, como e mesmo quando eles comem é determinado por sistemas culturais. Poucos europeus comeriam insectos porque essas criaturas lhes são intrinsecamente repugnantes devido ao condicionamento cultural, embora muitos deles comam camarão ou caracol. E, no entanto, em outras culturas insectos são uma parte importante da culinária e, em alguns casos, como a larva de sago para o povo Korowai da Nova Guiné, são iguarias. Em última instância, embora o comportamento humano esteja enraizado na evolução e fisiologia, ele é guiado primordialmente pelos sistemas culturais em que as pessoas nascem. Tal como ocorre com todos os sistemas, há paradigmas dominantes que guiam as culturas – ideias e pressupostos em comum que, através das gerações, são construídos e reforçados pelos principais agentes e instituições culturais e pelos próprios participantes das culturas. Hoje, o paradigma cultural dominante em muitas partes do mundo e que atravessa muitas culturas é o consumismo. O economista britânico Paul Ekins descreve o consumismo como uma orientação cultural em que “a posse e uso de um número e de uma variedade crescente de bens e serviços são a principal aspiração cultural e o caminho tido como de maior certeza rumo à felicidade pessoal, status social e sucesso nacional”. Simplificando: o consumismo é um padrão cultural que faz com que as pessoas encontrem significado, satisfação e reconhecimento principalmente através do consumo de bens e serviços. Embora isso assuma formas diversas em diferentes culturas, o consumismo leva as pessoas de qualquer lugar a associar níveis elevados de consumo a bem-estar e sucesso. Ironicamente, no entanto, a pesquisa mostra que consumir mais não significa necessariamente uma melhor qualidade de vida individual. O consumismo está hoje infiltrado de modo tão absoluto nas culturas humanas que, por vezes, fica até difícil reconhecê-lo como uma construção cultural. Ele dá a impressão de ser simplesmente natural. Mas, de fato, os elementos culturais – linguagem e símbolos, normas e tradições, valores e instituições – foram profundamente transformados pelo consumismo em sociedades do mundo todo. De facto, “consumidor” hoje em dia é com frequência usado como sinónimo de pessoa nos 10 idiomas mais usados no mundo, e seria plausível pensar em um número bem maior. Considere os símbolos – aquilo que a antropóloga Leslie White descreveu como “a origem e base do comportamento humano”. Hoje, na maioria dos países, as pessoas estão expostas a centenas, talvez milhares, de símbolos todos os dias. Logótipos, jingles, slogans, porta-vozes, mascotes – todos esses símbolos de marcas diferentes bombardeiam as pessoas rotineiramente, influenciando o comportamento até em níveis inconscientes. Hoje, esses símbolos de consumo são reconhecidos com maior facilidade do que espécies de animais selvagens comuns, canto de pássaros, sons emitidos pelos animais, ou outros elementos da natureza. Um estudo de 2002 constatou que crianças britânicas conseguiam identificar mais personagens de Pokémon (uma marca de brinquedo) do que espécies de animais selvagens. E os logótipos são reconhecidos por crianças de apenas dois anos de idade. Uma pesquisa com crianças de dois anos concluiu que, embora não fossem capazes de distinguir a letra M, muitas conseguiam identificar os arcos dourados que moldam o M do McDonald’s. As normas culturais – como as pessoas usam o tempo de lazer, a frequência com que actualizam o guarda-roupa e mesmo a forma de educar os filhos – estão hoje cada vez mais voltadas à compra de bens e serviços. Uma norma de particular interesse são os hábitos alimentares. Ao que parece, agora é natural ingerir alimentos superadoçados e altamente industrializados. Desde muito cedo, as crianças são expostas a bolos, cereais açucarados e outros alimentos não saudáveis, mas altamente lucrativos e veiculados por publicidade ostensiva – uma mudança que vem tendo um impacto tremendo sobre as taxas mundiais de obesidade. Hoje, vendedores ambulantes de fast food e máquinas que vendem refrigerante podem ser encontrados em escolas, forjando as normas alimentares das crianças desde bem pequenas e, sucessivamente, reforçando e perpetuando essas normas em todas as sociedades. De acordo com um estudo feito pelos Centros para Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, perto de dois terços das áreas administrativas contendo escolas públicas nos EUA recebem uma percentagem da receita das máquinas de venda automática, e um terço recebe recompensas de empresas de refrigerantes quando uma determinada quantidade de seu produto é vendida. As tradições – o aspecto mais ritualístico e mais profundamente enraizado das culturas – são hoje também forjadas pelo consumismo. De cerimónias de casamento que custam em média US$ 22.000 nos Estados Unidos a normas para funerais que pressionam aqueles que choram os entes queridos a comprar caixões e lápides elaborados, além de outros itens simbólicos caros, o consumismo está profundamente entranhado no modo como as pessoas observam os rituais. Optar por uma celebração de ritual simples pode ser uma escolha difícil de fazer, seja por causa de regras, pressão familiar, ou por influência da publicidade. O Natal demonstra bem esse ponto. Enquanto para os cristãos esse dia marca o nascimento de Jesus, para muita gente o feriado é dedicado ao Pai Natal, a ganhar presentes e banquetes. Uma pesquisa realizada em 2008 referente a gastos no Natal em 18 países constatou que se gastaram centenas de dólares/pessoa em presentes, e outro tanto em eventos sociais e comida. Na Irlanda, no Reino Unido e nos Estados Unidos – os três com maior gasto – as pessoas despenderam em média US$ 942, US$ 721 e US$ 581 em presentes, respectivamente. Um número cada vez maior de não cristãos comemora o Natal como uma ocasião para troca de presentes. No Japão, o Natal é um feriado importante, embora apenas 2% da população seja cristã. Como observado em tom espirituoso pelo reverendo Billy, da Igreja Pare de Comprar, em um chamado para educar o consumidor: “Acreditamos ser consumidores na época do Natal. Não! Estamos sendo consumidos na época do Natal”. O consumismo também está afectando os valores das pessoas. A crença de que mais riqueza e mais posses materiais são essenciais para se chegar a uma vida boa aumentou de modo surpreendente em muitos países nas últimas décadas. Uma pesquisa anual com alunos de primeiro ano de faculdades nos Estados Unidos investigou durante mais de 35 anos as prioridades de vida dos alunos. No transcorrer desse tempo, a importância atribuída a ter boa situação financeira aumentou, enquanto a importância atribuída à construção de uma filosofia de vida plena de sentido diminuiu. E este não é um fenómeno apenas americano. Um estudo conduzido pelos psicólogos Güliz Ger e Russell Belk constatou níveis altos de materialismo em dois terços dos 12 países pesquisados, inclusive em diversas economias em transição.
Embora hoje encontremos consumismo em praticamente todas as culturas, esse fenómeno não está isento de consequências. Neste planeta finito, definir sucesso e felicidade através de quanto uma pessoa consome não é sustentável. Além disso, está mais do que claro que essa orientação cultural não apareceu simplesmente por acaso, como um subproduto do crescimento da renda; ela foi engendrada ao longo de muitos séculos. Actualmente, como o consumismo foi internalizado por muitas sociedades, ele está de alguma maneira se auto perpetuando, embora algumas instituições da sociedade – incluindo empresas, media, governos e estabelecimentos educacionais – continuem a sustentar essa orientação cultural. Essas instituições estão também a trabalhar activamente para expandir mercados mundiais para novos bens e serviços de consumo. Entender o papel desses estímulos institucionais será essencial para que se cultivem novas culturas de sustentabilidade.
Erik Assadourian, in Relatório do Estado do Mundo 2010
A romena que não sabemos se o é
Sentada contra a porta, protegendo-se da noite fria, com cara de mártir da sorte, a romena pedia alguns cêntimos a quem entrava na Igreja para a missa vespertina. Se era romena ou não, romani ou outra que fosse, quem o poderia atestar?! Não trazia crianças com ela. Do mal, o menos. Sobe depois ao coro alto, vão adiantadas as leituras. Segue serena o rito sagrado. Ao ofertório dá das moedas que lhe deram. Outra viúva no templo de Jerusalém?! À comunhão, alinha-se na fila até ao sacerdote, comunga, e regressa à entrada da porta. A saída, lá está, com sua cara de mártir da vida, pedindo alguns cêntimos.
Quem és?, Donde és?, De que afectos ou desafectos vives?, Porque pedes, para que pedes ou para quem pedes? Tanto irmão e nenhum sabe de ti.
Quem és?, Donde és?, De que afectos ou desafectos vives?, Porque pedes, para que pedes ou para quem pedes? Tanto irmão e nenhum sabe de ti.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Verde Pino em Arganil e Alvaiázere
De 2 a 12 de Novembro a exposição "Retalhos de Outras Vidas" está em Arganil, na Câmara Municipal. Vai voltar ao concelho, mas a Coja (Biblioteca), de 2 a 19 de Dezembro, e voltará ainda, já em Janeiro, a algumas das escolas que participaram na realização das fotografias.
De 2 a 8 de Novembro, em simultâneo portanto com Arganil, está também patente na Biblioteca Municipal de Alvaiázere. Dado o interesse manifestado por diversas entidades, nomeadamente autarquias e escolas, a Exposição (constituída por 10 roll-up 200mm x 80mm), com fotografias de alunos dos diversos centros de ATL da Cáritas, foi reproduzida em duplicado, permitindo atingir um público mais vasto.
Em Arganil tivemos ontem também um workshop "Pobreza e Desempobrecimento", modalidade SIP, com 22 presenças.
De 2 a 8 de Novembro, em simultâneo portanto com Arganil, está também patente na Biblioteca Municipal de Alvaiázere. Dado o interesse manifestado por diversas entidades, nomeadamente autarquias e escolas, a Exposição (constituída por 10 roll-up 200mm x 80mm), com fotografias de alunos dos diversos centros de ATL da Cáritas, foi reproduzida em duplicado, permitindo atingir um público mais vasto.
Em Arganil tivemos ontem também um workshop "Pobreza e Desempobrecimento", modalidade SIP, com 22 presenças.
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